quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um antiespasmódico, por favor.

Ela adorava escrever e até que escrevia bem, mas não o fazia com freqüência, e eu desconfio por quê. Porque quando ela escrevia, sentia como se houvesse uma outra pessoa dentro dela mesma, alguém que ela não conhecia totalmente, que talvez viesse a revelar coisas que ela não queria saber, que materializava no papel coisas que ela não ousava dizer em voz alta ou admitia para si mesma.
 
Mas ela pensava muito, o tempo inteiro. Tinha tantas idéias e planos, sonhava demais, elaborava toda sorte de teorias e hipóteses nada científicas. Assim, havia dias em que ela não podia agüentar, tinha necessidade de colocar para fora os seus pensamentos e vomitava tudo de forma exasperada, tentando organizar o pensamento desordenado, as frases desconexas. Era exatamente isso que ela sentia, e não havia pior sensação para ela que a de vômito. O descontrole, o mau cheiro que exalava e a consistência, tal qual as substâncias mal digeridas eram as suas palavras. De toda forma, o alívio que se seguia era visível. Disso, ela gostava.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

F- e - l - i - z.

Tem coisa melhor do que receber notícias de alguém muito querido que você não sabia por onde andava? E em pouco tempo, você revive toda a alegria que aquela pessoa já te deu, e é um sentimento tão vivo, que um e-mail é praticamente um abraço bem apertado! E a sensação boa que é dirigir cantando bem alto, escutando uma música que você adora e torcendo pra que haja trânsito, pra dar tempo de escutar mais um monte de vezes! Como é bom quando a gente acorda tão feliz e de bem com a vida e percebe que até as coisas que costumam nos irritar, neste dia, não conseguiram. E quando você reza, e Deus te responde na mesma hora, mais rápido que whats app rsrs?! Bom demais! Assim como é legal sentir vontade de escrever neste blog e fazê-lo, como há algum tempo não fazia. E se dar conta de como você adora e que isso te faz tanta falta. Porque escrever pra mim é pensar alto, é falar pra mim mesma tudo o que eu sinto, e eu adoro escutar a minha voz!

sábado, 30 de março de 2013

O dia em muito me emocionei


Acho que guardarei lembranças dela pra sempre. O nome dela era Clo Orozco, mas todos a chamavam de Clo mesmo.

De imediato, ela nos cegava com sua beleza elegante. Claro, ela ja estava cansada de lhe acharem parecida com Isabela Rosselini. Mas passado o efeito da beleza, Clo seduzia pela sua cultura, pelas suas conversas, pelas suas idéias à frente de qualquer tempo. Por causa do trabalho no SPFW, tive a chance de cruzar com ela algumas vezes em reunioes de trabalho e outras tantas vezes eu mesma provoquei esse encontro. Porque estar ao lado dela era inspirador.

Nao perdia um desfile das suas marcas, mas sempre tive uma predileçao pela Huis Clos. E no final do desfile ia sempre ao seu backstage e esperava o momento de parabeniza-la. Lembro que eu adorava esse momento da espera, porque gostava de ve-la feliz no seu ambiente. Prestava atençao na delicadeza dela com a sua equipe de trabalho, com o olhar cheio de realizaçao pelo trabalho conquistado, pelo brinde com os amigos/familia. E la ia eu, orgulhosa dessa mulher, provocar mais um desses encontro e dizer : « Obrigada Clo pelo show de beleza e elegancia ». Ela sempre perguntava : « Voce gostou mesmo ? » Com aquela simplicidade dos gigantes. Trocavamos algumas conversas mais e eu dava meu lugar à uma pequena centena de pessoas que gostaria também de agradece-la por esse momento.

Suas roupas pareciam me entender melhor do que qualquer terapeuta. Era um pouco daquela coisa que no cabide nao sei se vai rolar, mas quando a gente veste…ahhhhh quando a gente veste. Por conta do trabalho, certa vez fechei um contrato importante e ganhei de presente de Natal da empresa uma soma importante para gastar em qualquer loja de roupas onde eu gostaria. Diante da pergunta da minha chefe de qual loja eu gostaria que ela enviasse o cheque, respondi sem a menor hesitaçao, na Huis Clos, claro ! Porque diante de uma soma grande onde jamais na vida gastaria com roupas, o ideal é que fosse em algo de muita qualidade.

Fui na mesma tarde para uma das boutiques na Rua Mario Ferraz, que ficava bem proxima do trabalho, passei um  dia de princesa. Chegando na loja lembro de me sentir receosa de perguntar se a vendedora ja havia recebido um cheque etc e tal…aquela situaçao que pode ser constrangedora. Mas se tratando da Huis Clos, a elegancia ja estava no DNA da marca e mesmo na abordagem das vendedoras. A gerente se aproxima, pergunta meu nome, me leva para um reino encantado de peças que acabaram de sair do desfile e que nao foram todas comercializadas e  me pergunta se eu procuro algo em especifico. Eu digo que nao, que procura apenas peças lindas, ela sabia que eu estava no lugar certo.

Quando ja havia experimentado e amado umas 15 peças, ela chega discretamente no provador e me fala. Candice, esta tudo certo seu caso sei do que se trata, pode ficar tranquila. Elegancia e sofisticaçao ja sabia, mas discriçao a esse ponto me surpreendeu. Durante essa visita, havia adorado uma sandalia preta em daim toda trabalhada, mas infelizmente nao havia minha numeraçao na loja. Dois dias depois recebi a sandalia em casa, de presente da marca, com um cartao junto agradecendo a visita.

 Esse foi o meu primeiro contato com a Huis Clos, depois virei cliente às minhas custas. Todo aniversario meu, momento especial quando soube que estava gravida das minhas filhas, festas importantes e etc ia na loja e me dava um presente, porque na Huis Clos as roupas parecem ser eternas. E sao.

Com a noticia da morte da Clo Orozco passei a semana refletindo. Sobre o valor da vida, sobre a morte, sobre a moda, sobre a beleza, sobre quase tudo. E de tudo, apenas uma certeza, infelicidade de mundo, estamos todos fechados num Huis Clos. Fique em paz.

 

 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sempre renuncias, Bento... - por Daniel , um jovem espanhol




A verdadeira causa da renúncia do Papa




Tenho 23 anos e ainda não entendo muitas coisas. E muitas coisas não podemos mesmo entender às oito horas da manhã quando te acordam para dizer: “Daniel, o Papa renunciou”.  Eu apressadamente contestei: “Renunciou?”.  A resposta não deixava dúvidas, “Renunciou Daniel, o Papa renunciou!”.

O Papa renunciou.  Assim que o dia amanheceu, o fato foi anunciado em todos os meios de comunicação, e rapidamente muitos perderam a fé e outros muitos a reforçaram. Poucas pessoas entendem o que é renunciar.
Eu sou católico, um de muitos. Destes que durante a infância foi levado à missa, cresceu e criou apatia. Em algum ponto ao longo da estrada deixei para lá toda a minha crença e a minha fé na Igreja, mas a Igreja não depende de mim para seguir, nem de ninguém (nem do Papa). Em algum ponto de minha vida, voltei a cuidar da minha parte espiritual e assim, de repente e simplesmente, prossegui em um caminho e hoje digo: Sou católico. Um de muitos, mas católico. 

Desde um doutor em teologia até um analfabeto em escrituras, o que todo mundo sabe é que o Papa é o Papa. Odiado, amado, objeto de provocações e orações, o Papa é o Papa, e o Papa morre sendo Papa. Por isso, quando acordei com a notícia, eu, junto com milhões de seres humanos, me perguntei: por quê? Por que a renuncia senhor Ratzinger? Sentiu medo? Sentiu a idade? Perdeu a fé? Ganhou a fé? Depois de 12 horas, acredito ter encontrado a resposta: O senhor Ratzinger renunciou a toda a sua vida. Simples assim.

O Papa renunciou a uma vida normal. Renunciou a ter uma esposa. Renunciou a ter filhos. Renunciou a ganhar um salário. Renunciou a mediocridade. Trocou horas de sono por horas de estudo. Renunciou a ser só mais um padre, mas também renunciou ser um padre especial. Renunciou preencher a sua cabeça de Mozart, para preenchê-la de teologia. Renunciou a chorar nos braços de seus pais. Renunciou a, tendo 85 anos, estar aposentado, desfrutando de seus netos, na comodidade de sua casa e no calor de uma lareira. Renunciou desfrutar de seu país. Renunciou a seus dias de folga. Renunciou a sua vaidade. Renunciou a defender-se contra os que o atacavam. Sim, isso deixa claro que o Papa foi, em toda a sua vida, muito apegado à renuncia.

Um papa que renuncia a seu pontificado, quando sabe que a Igreja não está em suas mãos, mas nas mãos de alguém maior, me parece ser um Papa sábio. Nada é maior que a Igreja. Nem o Papa, nem seus sacerdotes, nem os leigos, nem os casos de pedofilia, nem os casos de misericórdia. Nada é maior que ela. Mas ser Papa é um ato de heroísmo (um dos heroísmos que acontecem diariamente em nossos países e que ninguém nota). Lembro das histórias do primeiro Papa. Um tal de ... Pedro. Como ele morreu? Em uma cruz, crucificado igual ao seu mestre, mas de cabeça para baixo. Hoje, Ratzinger se despede de modo igual. Crucificado pelos meios de comunicação, crucificado pela opinião pública e crucificado por muitos de seus irmãos católicos. Crucificado pela sombra de alguém mais carismático. Crucificado e com a humildade que tanto dói entender. É um mártir contemporâneo, destes sobre os quais se podem inventar histórias, destes que podem ser caluniados e acusados. E que quando responde, a única coisa que faz é pedir perdão. “Peço perdão pelos meus defeitos”. Nem mais, nem menos. Quanta nobreza, que classe de ser humano. Eu poderia ser mórmon, ateu, homossexual e abortista, mas ver uma pessoa da qual se dizem tantas coisas, que recebe tantas críticas e ainda responde assim... já não se vê no mundo pessoas assim.

Vivo em um mundo onde é engraçado zombar do Papa, mas inconcebível fazer qualquer crítica a um 
homossexual (ou será taxado de intolerante, fascista, direitista e nazista). Vivo em um mundo onde a
hipocrisia alimenta as almas de todos nós. Onde podemos julgar um senhor de 85 anos que quer o melhor para a Instituição que representa, mas lhe indagamos com um “Com que direito renuncia?”. Claro, porque no mundo NINGUÉM renuncia a nada. Ninguém se sente cansado ao ir para escola. Ninguém se sente cansado ao ir trabalhar. Vivo em um mundo onde todos os senhores de 85 anos estão ativos e trabalhando (sem ganhar dinheiro) e ajudam às massas. Sim, claro!

Mas agora sei, senhor Ratzinger, que vivo em um mundo que vai sentir falta do senhor. Em um mundo que não leu seus livros, nem suas encíclicas, mas que em 50 anos se lembrará como, com um simples gesto de humildade, um homem foi Papa, e quando viu que havia algo melhor no horizonte, decidiu partir por amor à sua Igreja. Vá morrer tranquilo senhor Ratzinger. Sem homenagens pomposas, sem um corpo exibido em São Pedro, sem milhares aclamando e aguardando que a luz de seu quarto seja apagada. Vá morrer como viveu, mesmo sendo Papa: humildemente.

Bento XVI, muito obrigado por saber renunciar.


Quero somente pedir minhas mais humildes desculpas se alguém se sentiu ofendido ou insultado com 
meu artigo. Considero a cada uma (mórmons, homossexuais, ateus e abortistas) como um irmão meu, nem mais nem menos. Sorriam, que vale a pena ser feliz.

Fonte :
http://oehd.wordpress.com/2013/02/12/siempre-renuncias-benedicto/

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pasquale Cipro Neto / A propósito de carnaval

Os meus leitores fiéis sabem que não dou a mínima para o Carnaval. Na verdade, não é bem assim, porque não é a mínima que não dou; dou a máxima, já que simplesmente fujo dele. Carnaval? Me inclua fora dessa, por favor. Aos que ficam, bom proveito!
Esse pavor do Carnaval não me impede de gostar dos memoráveis sambas, frevos e marchinhas que gênios deste país produziram e produzem desde sempre. Algumas dessas obras-primas são de Caetano Veloso, que, diferentemente deste escriba, adora o Carnaval, o verdadeiro, o de rua, como se deduz por estes versos da antológica "Um Frevo Novo": "Todo mundo na praça / e muita gente sem graça no salão".
O caro leitor notou o duplo valor da expressão "sem graça"? Captou? Dou uma ajuda: "sem graça" qualifica definitivamente "gente" ("gente sem graça" = "gente chocha", "que não cheira nem fede") ou existe aí um verbo subentendido ("muita gente que, no salão, fica sem graça")?
Na mesma canção, Caetano costura uma das suas inúmeras referências intertextuais ao retomar o célebre poema "Ao Povo o Poder", do grande poeta baiano Castro Alves ("A praça? / A praça é do povo / Como o céu é do condor"). Caetano começa a letra de "Um frevo Novo" assim: "A praça Castro Alves é do povo / como o céu é do avião".
Parece desnecessário explicar a "adaptação aos tempos modernos" que Caetano faz dos versos de Castro Alves, certo? Mas não é desnecessário explicar que a praça Castro Alves existe, sim, e é um dos grandes redutos (talvez o principal) das manifestações populares dos soteropolitanos.
Embora estejamos num tempo de leitura escassa, de compreensão quase zero e de pouca ou nenhuma valorização da cultura clássica, ainda há alguns concursos públicos (vestibulares, por exemplo) que "insistem" em avaliar a competência intertextual dos candidatos, o que, na verdade, equivale a avaliar o quanto de bagagem cultural cada um desses meninos traz. De certa forma, enoja-me essa coisa de alguém dar importância a algo só porque os concursos exigem, isto é, enoja-me essa visão utilitarista. Melhor mesmo é, por puro prazer, por pura inquietação intelectual e existencial, entender os diálogos que um texto mantém com outros. Cá entre nós, assim a leitura faz muito mais sentido, não?
Mas voltemos ao tema "Carnaval" nas canções de Caetano. Na não menos brilhante "Chuva, Suor e Cerveja", Caetano relata o que "rola" num comboio carnavalesco de rua ("Não saia do meu lado / Segure o meu Pierrô molhado / E vamos embora ladeira abaixo"). O grande protagonista de alguns dos versos dessa canção é a aliteração, figura que o "Houaiss" assim define: "Repetição de fonemas idênticos ou parecidos no início de várias palavras na mesma frase ou verso, visando obter efeito estilístico na prosa poética e na poesia". Em seguida, o dicionário dá este exemplo: "Rápido, o raio risca o céu e ribomba". A aliteração está na repetição do fonema expresso pelo "r".
Nos versos de "Chuva, Suor e Cerveja" em que há aliteração, Caetano vai muito além da definição do "Houaiss". Vejamos: "Acho que a chuva ajuda a gente a se ver / (...) A gente se embala /Se embora / Se embola / Só para na porta da igreja...". Que lhe parece a aliteração de "Acho que a chuva ajuda a gente a se ver"? Leia várias vezes. Ouviu o "barulho" da chuva na sequência "ch" (de "acho" e "chuva"), "j" (de "ajuda") e "g" (de "gente")? Leia o trecho de novo, por favor.
Vamos aos versos seguintes: "A gente se embala / Se embora / Se embola...". Notou o efeito da repetição do fonema de "b"? Não parece fidelíssima a representação escrita, poética do "bolo" humano?
Cá entre nós, caro leitor, dá até vontade de gostar de Carnaval, mas... Tô fora. Literalmente. É isso.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Síntese da felicidade... - Carlos Drummond de Andrade

Faz tempo, muito tempo que ninguém escreve aqui no blog, inclusive eu! Acho que temos passado muitas horas nos facebooks, instagrams e whatsapps da vida, e nos dado por satisfeitos!! Não mais! Mesmo que ninguém acesse ou leia, firmo o compromisso de postar aqui cotidianamente, como sempre fazia e adorava fazer. Para um novo começo, nada melhor do que um amor já conhecido, por isso, claro, sempre e uma vez mais, Drummond :) .


"Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu".