Acho que guardarei lembranças dela pra sempre. O nome dela
era Clo Orozco, mas todos a chamavam de Clo mesmo.
De imediato, ela nos cegava com sua beleza elegante. Claro,
ela ja estava cansada de lhe acharem parecida com Isabela Rosselini. Mas passado
o efeito da beleza, Clo seduzia pela sua cultura, pelas suas conversas, pelas
suas idéias à frente de qualquer tempo. Por causa do trabalho no SPFW, tive a
chance de cruzar com ela algumas vezes em reunioes de trabalho e outras tantas
vezes eu mesma provoquei esse encontro. Porque estar ao lado dela era
inspirador.
Nao perdia um desfile das suas marcas, mas sempre tive uma
predileçao pela Huis Clos. E
no final do desfile ia sempre ao seu backstage e esperava o momento de
parabeniza-la. Lembro que eu adorava esse momento da espera, porque
gostava de ve-la feliz no seu ambiente. Prestava atençao na delicadeza dela com a
sua equipe de trabalho, com o olhar cheio de realizaçao pelo trabalho
conquistado, pelo brinde com os amigos/familia. E la ia eu, orgulhosa dessa
mulher, provocar mais um desses encontro e dizer : « Obrigada Clo
pelo show de beleza e elegancia ». Ela sempre perguntava : « Voce
gostou mesmo ? » Com aquela simplicidade dos gigantes. Trocavamos
algumas conversas mais e eu dava meu lugar à uma pequena centena de pessoas que
gostaria também de agradece-la por esse momento.
Suas roupas pareciam me entender melhor do que qualquer
terapeuta. Era um pouco daquela coisa que no cabide nao sei se vai rolar, mas
quando a gente veste…ahhhhh quando a gente veste. Por conta do trabalho, certa
vez fechei um contrato importante e ganhei de presente de Natal da empresa uma
soma importante para gastar em qualquer loja de roupas onde eu gostaria. Diante
da pergunta da minha chefe de qual loja eu gostaria que ela enviasse o cheque,
respondi sem a menor hesitaçao, na Huis Clos, claro ! Porque diante de uma
soma grande onde jamais na vida gastaria com roupas, o ideal é que fosse em algo
de muita qualidade.
Fui na mesma tarde para uma das boutiques na Rua Mario
Ferraz, que ficava bem proxima do trabalho, passei um dia de princesa. Chegando na loja lembro de
me sentir receosa de perguntar se a vendedora ja havia recebido um cheque etc e
tal…aquela situaçao que pode ser constrangedora. Mas se tratando da Huis Clos,
a elegancia ja estava no DNA da marca e mesmo na abordagem das vendedoras. A
gerente se aproxima, pergunta meu nome, me leva para um reino encantado de
peças que acabaram de sair do desfile e que nao foram todas comercializadas
e me pergunta se eu procuro algo em
especifico. Eu digo que nao, que procura apenas peças lindas, ela sabia que eu
estava no lugar certo.
Quando ja
havia experimentado e amado umas 15 peças, ela chega discretamente no provador
e me fala. Candice, esta tudo certo seu caso sei do que se trata, pode
ficar tranquila. Elegancia e sofisticaçao ja sabia, mas discriçao a esse ponto
me surpreendeu. Durante essa visita, havia adorado uma sandalia preta em daim
toda trabalhada, mas infelizmente nao havia minha numeraçao na loja. Dois dias
depois recebi a sandalia em casa, de presente da marca, com um cartao junto
agradecendo a visita.
Esse foi o meu
primeiro contato com a Huis Clos, depois virei cliente às minhas custas. Todo
aniversario meu, momento especial quando soube que estava gravida das minhas
filhas, festas importantes e etc ia na loja e me dava um presente, porque na
Huis Clos as roupas parecem ser eternas. E sao.
Com a noticia da morte da Clo Orozco passei a semana
refletindo. Sobre o valor da vida, sobre a morte, sobre a moda, sobre a beleza,
sobre quase tudo. E de tudo, apenas uma certeza, infelicidade de mundo, estamos
todos fechados num Huis Clos. Fique em paz.