quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Quem precisa ir ao analista, se tem um blog rsrs?!!!

Ontem assisti a um filme chamado "Não Sei Como Ela Consegue", sobre a rotina de uma mulher casada, mãe de dois filhos e que tem um emprego exaustivo em uma empresa de fundos de investimentos. O filme é uma comédia, mas tenho certeza que a maioria das mulheres que o assistem pensam que está mais para drama, porque leva inevitavelmente à reflexão e à identificação com alguma situação cotidiana nossa. Ele enfoca a desvantagem que a maternidade implica na vida profissional da mulher, comparando com os homens. Questiona por que o tempo não pode ser melhor dividido entre pais e mães, por que sempre são as mães que tem que arcar com a dupla jornada. ( No filme, a amiga da protagonista diz que se um homem tem que sair no meio do expediente por causa dos filhos, ele é visto como abnegado, pai esforçado e digno de admiração, mas se é a mulher que tem que sair, ela é tida como desorganizada , sem comprometimento com o trabalho ou até mesmo irresponsável). Mostra também uma certa tensão entre os dois tipos principais de mães, as que trabalham fora e as que ficam em casa com os filhos. Uma competição velada para ver quem está levando a melhor.

 Eu já estive nos dois lados, e acho que há vitórias e derrotas para ambos. Aliás, parafraseando um amigo nosso: no jogo da vida, vence quem se diverte mais, ou seja, na minha interpretação, a pessoa que consegue ser mais feliz e fazer todos à sua volta mais felizes! Já fui a mãe que não teve tempo de ler na agenda que era dia de levar um pratinho de pães de queijo para o lanche coletivo, aquela que chegava atrasada na apresentação do dia das mães e via o filho procurá-la incansavelmente com o olhar por todo o auditório, já fui a mãe que saía correndo como uma louca no trânsito, muitos minutos depois do horário de saída da escola, mas também fui a que fez com esmero a maquete do quarteirão do colégio, aquela para quem as outras mães ligaram perguntando onde poderiam encontrar a fantasia de índio, a que dá carona para vários amigos de seus filhos, a que organiza as tardes de estudo e as reuniões para fazer os trabalhos.

 Já quis me convencer que não é a quantidade do tempo, e sim a qualidade que importa. Já disse para mim mesma que a responsabilidade de ser mãe nos obriga a fazer escolhas e que "ser pai e mãe é uma oportunidade para aprender a diferenciar os desejos das necessidades". 

Como não podia ser diferente, volto agora ao velho tema, já abordado em tantos posts por aqui, assunto de tantas matérias, debates e análises por aí afora: a velha e boa culpa. Perguntei a mim mesma onde estava ela durante esses meus quinze anos sendo mãe. Percebi que nos primeiros anos de vida de Pedro, eu não conhecia a tal da culpa. Quando ele nasceu, tinha acabado de passar no vestibular, fiz a matrícula na universidade e posterguei o início do meu curso por seis meses, para poder ficar com ele nesse período. Depois que comecei a estudar, foi uma correria, na maior parte do tempo, tinha aula o dia inteiro. Chegava em casa a tempo de vê-lo um pouco , antes dele dormir. Tive que delegar seus cuidados a uma babá ( e foram muitas, uma rotatividade intensa!!); com minha mãe, só contava nos finais de semana, porque ela ainda trabalhava dois turnos naquela época. Não sentia culpa por que não havia outro jeito, por que não tinha tempo para isso, nem maturidade.

Só depois, pouco tempo antes de Clara nascer, é que comecei a conhecer a culpa. A rotina com dois ficou muito mais apertada, ainda mais com todas as complicações de saúde que ela teve, final de curso na universidade, monografia, consultório, pacientes de manhã até à noite... Acho que a culpa aparece quando temos possibilidade de escolha, quando sabemos que podemos fazer algo diferente, quando começamos a nos perguntar se não podemos diminuir nossa carga de trabalho ou se tudo o que requer nosso tempo é realmente imprescindível. Quando começamos a nos ressentir por estar perdendo a melhor parte de tudo isso, que é estar junto deles. A culpa definitivamente aparece quando nos damos contas de que sempre existirão processos, pacientes, clientes, projetos e boas oportunidades de negócios, mas que nossos filhos só serão crianças uma vez na vida.

Com João, eu quis ( e pude) fazer diferente, talvez a certeza de que ele seria meu último filho tenha sido um fator decisivo para decidir radicalmente deixar de trabalhar e ficar em casa. Por ser a minha última oportunidade de fazer diferente, por pensar, enfim, ter encontrado uma forma de expiar toda a culpa acumulada...sei lá, Freud explica! Tenho consciência de que foi uma escolha pensada sobretudo na minha felicidade, muito mais na minha realização do que no seu bem-estar. Se eu acho que o fato de ter me dedicado a João muito mais que aos outros vai fazer dele um adulto mais seguro, mais bem-resolvido? Com certeza não! Ele será exatamente como os outros dois ( resguardando as particularidades de suas personalidades ), no máximo, será bem mais mimado! Mas aí voltamos ao x da questão, apesar de toda a discriminação (incrivelmente inversa nesses tempos modernos), eu me sinto mais feliz, sinto que estou no lugar certo, fazendo a coisa certa. De mãos dadas com a culpa por tantos outros motivos, mas sinceramente feliz! 


5 comentários:

  1. Guga, quando crescer quero ser você!!!
    Adoro seus posts. Espero ansiosamente por cada nova ideia ou novo desabafo, com os quais me identifico bastante (só não consigo expressar tão bem). Obrigada por expiar nossas neuras e culpas!!!

    ResponderExcluir
  2. Kkkkkk Obrigada, Lenisse, sempre procuro escrever sinceramente sobre o que me vem ao coração, fico muito feliz por minhas palavras lhe fazerem bem!!! Um grande beijo, Guga

    ResponderExcluir
  3. Já vi esse filme, adorei, também me identifiquei com muitas cenas, com o lado glamuroso de se trabalhar fora, de viver todo dia uma nova realidade e aventura, com a mãe que vive descabelada e desarrumada, rsrs. Você, Guga, é mesmo sortuda, porque quis e pode fazer diferente com João. Só que essa opção é ceifada da maioria das mulheres que, como eu, tem mesmo que trabalhar pra manter a receita da casa. Enquanto a sonhada estabilidade não chega, acordo de madrugada pra compensar a aula de violino, ligo sem culpa pra saber de você onde achou a tal fantasia do índio e, quando a semana ajuda, ligo também pra saber se encontrou o tal boné branco e conto infinitamente com você pra fazer meu guarda-roupa, meus dias e minha vida melhores. Te amo, amiga!

    ResponderExcluir
  4. Eu tenho várias outras teorias sobre o mesmo assunto: a primeira delas é que do primeiro filho para o segundo, muda tudo ( de 2 para 3 ou de 3 para 4 filhos, praticamente não há mudança, é um a mais que chega! ), toda a organização da casa vai por água abaixo; a segunda teoria é que , quando temos apenas um filho, ele é que se adequa à rotina do casal, mas a partir do segundo filho, a nossa rotina é que precisa se adequar a eles; a terceira delas é que para cada filho, somos uma mãe diferente, porque a nossa idade, a fase da vida em que nos encontramos será decisiva pelas nossas escolhas, pelas nossas prioridades, pelo que nos satisfaz ou não em dado
    momento. Ou seja, a história é complexa por demais e, por isso, através de inúmeras equações diferentes, conseguimos chegar ao mesmo resultado final, de exercemos a maternidade feliz e plenamente!!!

    ResponderExcluir
  5. Sou amiga íntima dessa culpa materna, culpa esta que é ampliada por quê trabalho muito mais por quê gosto e me sinto feliz assim, do que por quê preciso financeiramente do meu salário. Espero que fazendo o que me deixa feliz eu passe algo de bom para os meus filhos.

    ResponderExcluir