quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mal de mãe - Parte III

Quando escuto alguma mãe falando (ou me pego pensando): -"Meu filho ainda não está preparado para isso...", penso que, na maioria das vezes, somos nós mesmas que não estamos. Porque, teoricamente, nenhuma criança nunca está preparada para nada, tal é a definição de criança, um ser que se prepara para a vida, que todos os dias se mune de recursos que vão ajudá-la mais tarde, quando tiver crescido, não é assim?! Só que o desenvolvimento e a crescente independência (primeiro física e depois emocional) da criança são processos dolorosos para os pais. A mãe tenta se apegar de tudo quanto é jeito, faz do desmame, da volta ao trabalho depois do período de licença e de tirar o pequeno das noites dormidas em seu quarto, um verdadeiro transtorno. E "incrivelmente" percebem depois que a criança reagiu bem! Crianças são sempre receptivas a mudanças, principalmente quando sentem que são benéficas, que lhes proporcionam uma maior tranquilidade e autonomia.

A escola certamente é um capítulo à parte, isso porque na verdade, ela representa um pequeno mundo, um ensaio para a vida real. Li outro dia em um livro de psicologia que, ao colocar a criança pela primeira vez na escola, ocorre um processo chamado de "diluição do filho", algo assim: antes o filho reinava sem concorrência ou comparações, mesmo se tivesse irmãos ou uma convivência próxima com os primos, sua luz sempre era mais forte e encantava os olhos de toda a família com seus gracejos, suas descobertas e suas habilidades. Quando entra na escola, logo no primeiro dia de aula, os pais levam um golpe certeiro, percebem que o filho diluiu-se entre os demais, ele é apenas mais um, especial para nós, sem dúvida, mas não passa de mais uma criança comum. Por isso é normal vermos alguns pais enfatizando características até negativas de seu filho para a professora, como dizer que ele não consegue ficar quieto ou que ele tem muita força e às vezes sem querer pode machucar os colegas nas brincadeiras, na tentativa de mantê-lo especial não somente aos seus olhos, mas para todos; é uma forma de dizer meu filho é diferente dos demais.

Outro aspecto que faz os pais sofrerem tem a ver com uma frase que eu escutei na homilia de um padre na Canção Nova : "os filhos trazem consigo os filhos dos defeitos dos pais". O que acontece é que, quando temos um filho, projetamos nele tudo de melhor e qual é a nossa surpresa e decepção, quando o enxergamos com as mesmas limitações que nós tínhamos ou ainda temos! É difícil vislumbrar a nossa dificuldade de socialização, a nossa passividade, a nossa agressividade se manifestando em nossos filhos, evidenciada nas relações com os colegas de escola. Daí podemos imaginar que caminho penoso teremos pela frente, para alguns, haverá a necessidade de enfrentar (= aceitar e transformar) pela primeira vez certas situações, para depois darmos suporte para que os nossos filhos façam o mesmo.

É isso, ver os filhos crescerem dói sim, não tem como não doer. Pois como dizem que ter um filho é ter o coração batendo fora de si, imagina a aflição de não saber por anda anda, o que está aprontando esse coração... de não poder mais filtrar o que chega até ele! Esse mesmo coração que pode até ficar à solta por aí, mas que sempre o sabemos e o sentimos dentro de nós.

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