terça-feira, 10 de maio de 2011

Para celebrar a vida ou reflexões em meio a um congestionamento em um dia de chuva.

Tenho pensado bastante em como a vida muda o seu rumo. A minha, a sua, a das pessoas conhecidas, a vida de todo mundo. Bom, desde pequena, eu já sabia disso, quando disse à minha mãe, com apenas cinco anos, que "tudo muda, e as pessoas, também" - em resposta à sua reclamação de que eu não estava tão organizada como era antes. Com certeza, todos levam uma vida diferente, pelo menos em alguns aspectos, da que um dia idealizaram. Digo isso sem quaisquer pontadas de frustração ou ressentimento. Não são vidas piores, também podem não ser melhores, são apenas outras vidas. Com outros anseios, diferentes alegrias e realizações.

Eu já quis ser médica, jogadora de basquete, papiloscopista e backing vocalist - e que fique claro que talento foi o que nunca me faltou rsrsrs!! Já sonhei em ser voluntária da Cruz Vermelha, casar com um imaginário Gérard e morar em Paris, já tentei aprender a tocar piano, queria ter seis filhos (em alguma fase da minha vida que certamente tomava medicação controlada!!), fiz planos de passar alguns anos nos Estados Unidos, pretendia escrever um livro, quis aprender a fazer tricô e crochê. E sabe qual é a sensação que tenho hoje? É que tudo de alguma forma se concretizou, não em mim, logicamente, mas em tantas pessoas queridas que conheço. Tem sempre uma irmã aventureira que percorre o mundo, uma outra que morou um tempo na França, uma amiga médica, um blog para escrever com outras pessoas, enfim, percebo que nós não nos realizamos necessariamente em nós mesmos.

Às vezes, perseguimos certos objetivos, traçamos nossas metas, mas enquanto não as alcançamos, a vida vai passando (e mudando), e nós esquecemos de atualizar o propósito de tudo isso no contexto em que estamos agora, hoje. Continuamos no caminho, mas sem questionar se queremos ainda chegar onde a estrada vai dar. Seguimos no automático...

E a vida é tão contraditória! Quanto mais queremos ter o controle sobre tudo que vivemos, menos percebemos as chances, oportunidades valiosas, que batem à nossa porta. Quando queremos nos encontrar, temos que colocar o nosso olhar sobre os outros. Quando queremos ser mais felizes, temos que nos dar menos importância. Para estar repleta, tenho que me esvaziar antes. Para me sentir completa, tenho que me dividir em muitas.


E no final das contas, a gente precisa de tão pouco para ser feliz! E também para fazer os outros à nossa volta felizes! Mas vivemos em meio a tantas distrações, demasiadas alegorias e preocupações supérfluas, que o essencial sempre nos escapa. Na minha vida, muita coisa aconteceu de maneira surpreendente, inesperada, mas quando eu paro pra pensar, sinto que estou onde deveria estar e que nem nos meus melhores sonhos, eu imaginaria a minha vida como ela é. Não sei se vocês brincavam, quando eram pequenas, de ficar folheando uma revista, apontando e dizendo "eu sou essa, eu sou aquela...", penso que se tivesse uma foto minha na revista, naquele tempo, nem eu mesma tinha me escolhido, mas teria errado feio!

Hoje me sinto agraciada, sinto imenso orgulho de tudo o que conquistei, mesmo que o meu tudo seja insignificante aos olhos do mundo; minha inabalável paz interior e todas as pessoas que cativei ao longo da minha vida são minhas maiores e preciosas conquistas. Vem à minha cabeça, como sempre, alguns versos do meu estimado Drummond:

 "Eu sozinho menino entre mangueiras
   lia a história de Robinson Crusoé,
  comprida história que não acaba mais. (...)
  E eu não sabia que minha história
  era mais bonita que a de Robinson Crusoé."

6 comentários:

  1. Guga,apesar de nos conhecermos apenas superficialmente, já me sinto um tanto "íntima" por acompanhar, já há alguns meses, o seu blog, que me foi indicado por Valéria,amiga que temos em comum. Esse seu post me tocou especialmente,me identifiquei de forma tal, que pensei: Poxa, como posso ter tantas ideias em comum (só não escrevo tão bem...) com uma pessoa que mal conheço? Assim tenho que concordar quando você diz que estamos exatamente onde deveríamos estar. Com as voltas da vida, Deus colocou você e seus belos textos no meu caminho.

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  2. Nós temos imenso orgulho de você e de sua trajetória de vida e nos sentimos privilegiados por sermos parte de suas conquistas.
    Parabéns pelo post !

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  3. Passei um tempo sem acessar o blog e me deparo com esse texto...uaaaauuuu!!!!!
    A gente se sente realizada quando a simplicidade passa a reger nossa vida.
    Obrigada pelo post, foi uma luz no dia de hoje
    Bjo grande

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  4. Eu é que fiquei emocionada e feliz por esse sincero relato ter tocado algumas de vcs; esse é o meu único objetivo quando escrevo aqui! Esse é o verdadeiro trunfo da internet, conectar e fortalecer laços de amor e amizade à distância.Um grande beijo, Guga

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  5. DEUS do céu, coisa mais linda! Escreve logo esse livro que eu prometo estar na fila antes de vc chegar para a noite de autógrafos...
    Um beijo imenso e um abraço bem apertado.

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  6. Querida, fazia um tempo, também, que não abria o blog. Amei o texto. Quando me sinto aflita com esse sentimento de deslocamento, penso que estou, exatamente, onde Jesus quer quer eu esteja. Penso isso muito em situações cotidianas, prosaicas, quando pego um caminho em que o trânsito está insuportável. Não me dou a chance de reclamar porque, no fim, tudo, até os desvios de compromissos, faz sentido, porque no outro caminho "nao traçado" dei carona a alguém que ia de ônibus pra casa num dia chuvoso ou mesmo recebo uma palavra de conforto de um senhor desconhecido. Lendo esse post, vejo que preciso aplicar esse conceito nas situações 'macro', profissionais principalmente, já que ao mundo e a nós, não basta que sejamos só mais um na engrenagem, temos que brilhar, resplandecer, ofuscar. Sou feliz, hoje, por diversos motivos prosaicos, por sonhar com um por do sol, acordar e comer banana com açúcar e canela, fazer fluir projetos e processos, ter meu marido no fim do dia, mesmo que um tanto quanto estressado, abraçar meu filho e, também, por conviver com vocês, parte de mim, da minha história, que me tornam cada dia mais contemplativa em relação à vida, a Deus e à família (onde, definitivamente, se enquadram).

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