quinta-feira, 12 de julho de 2012

Histórias no salão de beleza - parte I

Chego no salão ontem à tarde para fazer as unhas. A atendente pergunta: - Pé e mão? Respondo que sim , e ela me pede para escolher com qual manicure quero fazer e me aponta as duas que estavam livres no momento. Uma delas, eu já conhecia e sabia que ela tinha mania de falar o tempo todo para relaxar as minhas mãos, que eu era muito tensa e tal. A outra, nunca tinha visto por lá, achei que era novata e decidi fazer com ela.

 Ela foi logo dizendo que era a primeira semana de trabalho naquele salão, eu sorri, mostrando simpatia, mas querendo dizer "tudo bem, eu sou legal, só que hoje não quero conversar, prefiro assistir à Chocolate com Pimenta na TV."

 Ela , vendo meu interesse pela novela, disse: - Minha filha também adora essa novela e toda vez que acaba, ela fica com vontade de comer chocolate. Mas eu digo pra ela não exagerar no doce. Ela não é gordinha, é cheinha, sabe?! E ela quer ser baliza na escola, no 7 de setembro; na verdade, ela vai ser uma das balizas. Mas a gente não pode pegar muito no pé dela não, porque teve uma vez que ela quis passar dois dias sem comer nada. Aí eu falei que não pode, né?! Que não pode comer besteira, mas tem que se alimentar.

 Eu continuo sorrindo e concordando com a cabeça, e ela desanda a falar na tal menina. Até que eu me rendo e puxo conversa também:

 - Ela tem quantos anos?
 - Doze.
 - Só tem ela de filha?
 - Só, aliás tenho um casal, eles são mais velhos, é que não foram criados por mim, mas com a avó. Mas hoje cada um já tem a sua casa. Eles são muito diferentes, a pequena é estudiosa, os outros dois não quiseram saber de estudar. Acho que a criação faz diferença, né?!
- Acho que é mais da pessoa mesmo, porque na mesma casa, às vezes tem filhos que não gostam de estudar e outros que gostam.
- É mesmo. O que não dá certo é filho criado com avó...

   E depois disso, ela se calou, e eu fiquei com a pergunta querendo sair, querendo saber como foi aquela história, por que ela não criara seus filhos. Mas por educação, não perguntei mais nada. Fiquei ali só olhando para ela fazendo cuidadosa e lentamente as minhas unhas, não sei se por precaução no emprego novo ou por perfeccionismo. Demorou horrores, e eu pensando na história dela, pensando que tinha perdido justo a parte mais interessante. Tentando arranjar na minha cabeça alguma pergunta capciosa, aquele gatilho que os psicólogos e psicanalistas usam para nos fazer falar sem sentir. Mas eu não era nem uma coisa nem outra, era só uma pessoa cuja curiosidade tinha sido despertada.

 Depois de muito tempo, ela finalmente acabou. Quando já estava começando a calçar as minhas sandálias, ela pede pra fazer uma massagem nos meus pés antes, assim, ela se redimiu completamente, e eu fui embora satisfeita.

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