terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Tudo o que Vive, Quer Viver"

Parte do mundo se encontra voltado para Copenhague, para a XV Conferencia de mudança climática. Muitos protestos, discussões, acordos e busca de soluções para minimizar ou retroceder o estrago que a emissão de carbono está causando ao Planeta Terra.

Planeta Terra.. nossa casa.

Na revista Exame CEO de Outubro deste ano o professor emérito da Universidade de Cambridge, Anthony Giddens, escreveu no artigo intitulado "O paradoxo que nos aprisiona": "Para a maioria das pessoas, existe um abismo entre preocupações familiares da vida cotidiana e o futuro abstracto, não obstante apocalíptico, do caos climático. Quase todo mundo deve ter ouvido a expressão "mudança climática" e sabe ao menos um pouco o que ela significa. [...] Por mais que nos falem sobre as ameaças, é difícil encará-las porque elas parecem um tanto irreais - e, nesse meio tempo, há uma vida a ser vivida, com todos os seus prazeres e as suas pressões. A política da mudança climática precisa lidar com esse intrigante paradoxo: como os perigos do aquecimento global não são tão tangíveis, imediatos ou visíveis no dia a dia, muitas pessoas não farão nada de concreto para combatê-los - por mais apavorantes que pareçam; mas, se esperarmos que esses perigos se tornem visíveis para sermos incitados a uma ação séria, ela ocorrerá, por definição, tarde demais. [...] na tentativa de conter as mudanças climáticas, não estamos tentando salvar o planeta, que sobreviverá a despeito do que fizermos. A questão é preservar, e se possível melhorar, um modo de vida decente para os seres humanos sobre a Terra. É isso que está em jogo."

A gente acha que os problemas ambientais não estão ao alcance de nós mesmos, da mesma forma pensamos a respeito das soluções. Escutamos falar sobre aquecimento global, emissão de carbono, desmatamento, descongelamento das geleiras na Antartida , mas não fazemos idéia o que isto realmente significa e quais repercursões pode ter em nossas vidas. Muita gente, nem pensa, por exemplo, qual o vínculo do churrasco do fim de semana com o desmatamento da Amazônia.
Milhares de hectares são destruídos anualmente na Amazônia para a criação da pecuária. Assim, como milhares de hectares são destruídos na Amazônia para o cultivo da soja!

Quando parei de comer carne (vermelha) há oito anos atrás, a razão inicial foi por uma necessidade de desintoxicação alimentar, na época fiz um tipo de experimento comigo baseado na medicina ortomolecular e na eliminação dos alimentos refinados (muito ricos em soda cáustica!). A partir de então, percebi que meu organismo conservava uma energia impressionante. Foi a época mais "monja" de minha vida. Estava me sentindo muito leve (no peso e na mente), segura, confiante, energética e muito, mais muito intuitiva e com a percepção muito aguçada. Foi uma experiência de verdadeira expansão. E, confesso, isto determinou minha decisão de parar de comer carne. Foi uma diferença tão grande à nível de digestão, de energia, de bem-estar geral, que não queria mais comer carne.

Mesmo assim fui caminhando em um processo, por um tempo ainda comia frango, até estudar mais de onde vinha e como vinha estes frangos para a mesa (completamente intoxicados de antibióticos - para não ficarem doentes - e de hormônios de crescimento - existem estudos de ginecologia que apontam o consumo de frango como potencial causador da puberdade precoce); e por fim, deixei de comer peixe. O caso do peixe foi diferente, certo dia, eu não "pude" mais colocar um pedaço do peixe na minha boca. Não veio de uma esfera mental, foi em um nível diferente, talvez ecológico, emocional, sei lá. Até agora não veio de novo a vontade de comer peixe, mas, sei que é algo que pode voltar. Aliás, tudo pode voltar, a vida é um ciclo, nada é definitivo.

Agora minha decisão de não comer carne é reforçada por uma questão global. É alarmante a atual situação da produção e consumo de carne bovina. Segundo indica o relatório das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, o gado emite uma percentagem muito superior de gases nocivos como o amoníaco (NH3) ou o dióxido de carbono (CO2), do que emitem os carros.
Quando a vaca peida, isto mesmo, emite gases flatulentos (hehehe..), gera 04 toneladas de metano ao ano ( em comparação com 2,7 toneladas de dióxido de carbono que gera um automóvel popular). Além do excessivo consumo de água para produzir simplesmente 01kg de carne: 10.000 litros de água.

Quando me tornei vegetariana começei a entender o quanto somos apegados aos nossos hábitos (muitas vezes nem tão benéficos, saudáveis ou positivos como a gente imagina). E passei a transferir esta experiencia de desapego da carne, para outras esferas e entendimentos de minha vida cotidiana. Me tornei uma pessoa que reflete bastante sobre o consumo. E quem me conheçe sabe que estou sempre buscando alternativas ou soluções para minimizar gastos (econômicos e ecológicos).

Eu não penso niilisticamente que sou apenas uma gota em um imenso oceano, acredito que a mudança ocorre a partir de ações individuais. De onde você acha que vieram os problemas ambientais? Eles brotaram do nada? Brotaram de nossas ações individuais. Não dá para pensar micro, a gente tem que pensar macro!... Imagine que o planeta é a sala de sua casa, e o que você não quer mais usar, você joga ali, no cantinho da sala. Já imaginou como sua sala (planeta) pode ficar em apenas 01 ano?

Enfim, voltando à citação do professor de Cambridge, melhorar a situação de vida dos seres humanos no planeta é passar a refletir e questionar muito agressivamente a nossa atitude consumista. A questão ecológica não é isolada. As questões sociais, politicas, econômicas, espirituais e ecológicas estão todas interligadas. Quando penso no meu consumo eu penso na pobreza, nas diferenças socias (marginalização dos mais fracos), na economia, no impacto ambiental. É inevitável.

O que somente pode salvar o planeta de uma catástrofe ambiental tem a ver com a mudança de valores. A responsabilidade não é das pessoas que estão neste momento em Copenhague, a responsabilidade é minha, é sua, é da sua criança também. Agora, se você precisa ou não assumí-la, aí é uma questão de consciência.

" Um único raio de sol é suficiente para afastar muitas sombras"

Como nós, enquanto acadêmicos, pensadores, médicos, advogados, arquitetos, empresários e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento?

A gente tem que transformar esta incerteza (ou medo do futuro do planeta) em vontade e determinação para a mudança.
- Revise seu estilo de vida.
- De como você se relaciona com a Natureza cotidianamente;
- De como podemos construir uma sociedade mais saudável, mais interconectada.
- Reduza! Re-utilize! Recicle!

Isto tudo pode incluir pequenas mudanças (planejar o uso do carro - tipo não sair 500 vezes de casa, podendo resolver com uma saída; usar mais bicicleta ou caminhar, usar escada ao invés de elevador; minimizar a água que sai da torneira; usar sacolas de tecido, mochila, seja lá o que for, mas, pelo amor de Deus, sacola plástica vai virar gafe qualquer dia desses!; não desperdiçe comida! compre alimentos locais... enfim.. acho que dentro de cada um existe as respostas.)...
Pequenas mudanças que podem fazer grande diferença, a começar pela educação das crianças. Elas são o seu reflexo.

Pensar no bem-estar do outro, no bem estar do Planeta é um ato de doação. É um gesto de bondade, de respeito e sobretudo de Amor.
Para mim, o espírito natalino começa com esta consciência, com a consciência Franciscana ( S.Francisco de Assis, o qual tenho devoção), de que sou parte de um todo maior, e que estou acessível para ajudar ao próximo.

" Começe fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o que é impossível" - São Francisco de Assis - (o título do post e a outra citação também são dele)

beijos e um Feliz Natal Consciente!!!
Mariana

Um comentário:

  1. Acho que muita coisa sobre ecologia que a gente só escutava falar por alto já se incorporou às nossas vidas na prática e já faz parte do programa escolar dos nossos filhos, que geralmente são bem mais conscientes do que nós mesmos, por terem nascido numa época em que se discute demais os rumos do planeta. Mesmo assim, ainda falta muito para mudar a mentalidade geral a ponto de realmente fazer diferença no planeta, mas o começo é por aí mesmo, cada um de nós na sua casa. Tento seguir um comportamento de consumo econômico; sempre que lembro, carrego as compras na minha sacola reutilizável, mas acho que não consigo deixar de comer completamente carne vermelha, já reduzi muito nos últimos anos, e isso minimiza um pouco minha culpa ambiental!!

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