sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Braúlio Tavares : A arte do livro bizarro

Sou colecionador de livros bizarros, exóticos, meio absurdos. Não dos livros propriamente, porque não tenho dinheiro que os compre nem lugar onde os amontoe; mas das informações a seu respeito, que muitas vezes se limitam a ver a capa, o título, ler um resumo. O Livro Bizarro nos lembra que o mundo dos livros se parece ao mundo da Natureza, onde as coisas brotam ao acaso, sem coordenação central. Basta esquecermos as cadeias de grandes livrarias e irmos fuçar Web afora (ou em sebos e bibliotecas) para descobrirmos livros tão improváveis quanto o ornitorrinco, o tubarão-martelo e a bactéria de arsênico.
Quem imaginaria, por exemplo, um livro intitulado “Tudo Sobre Cascas de Feridas”? É uma obra didática infantil de Genichiro Yagyu (1998), a quem tirei o chapéu: está aí um assunto que jamais me ocorreria. Talvez me ocorresse, como a qualquer cidadão, o tema da obra de Deborah K. Hargis: “Suas Pernas São Longas Demais: Como Ir Além das Desculpas nos Casos de Disfunção Erétil”. É um manual que analisa as desculpas dadas pelos homens (“Você parece com a minha mãe”, “Acho que bebi muito”, “Acho que bebi pouco”, etc.) naquela mais constrangedora das situações. Talvez fosse útil a gente consultar “Mais 101 Utilidades Para um Gato Morto” de Simon Bond (observem a sutileza do “mais”: trata-se decerto de uma segunda compilação), ou os provavelmente sábios conselhos de Donald Rogers em “Ensinando Sua Esposa a Ser Viúva”.
Temas mais leves podem ser encontrados em “A Estranha História dos Dentes Falsos” de John Woodforde, “Amor e Sexo com Robôs” de David Levy, “Como Ensinar Física ao seu Cachorro” (pena que não haja um livro visando filhos adolescentes!) de Chad Orzel, “Um Atlas das Pulgas da Grã-Bretanha e Irlanda” de R. S. George. Tudo na vida tem dois lados, não é mesmo? Aqui está “Castração – Vantagens e Desvantagens”, de Victor Cheney, que não me deixa mentir.
São livros técnicos destinados a aprimorar nossa vida prática, mas não é apenas neles que a estranheza se manifesta. Fico pensando nas mirabolantes aventuras contidas no romance “A Vagina Mal-Assombrada” de Carlton Mellick (autor de outras obras como “O Cadáver do Jesus Elétrico” ou “Zumbis e Fezes”). Ou nas revelações históricas contidas em “Os Homens que Embalsamaram Lênin” de Ilya Zbarsky. Sem falar nas emoções de “Socorro! Estou Sendo Comido Por um Urso!” de Mikle Hansen. (Gostou? Tem mais aqui: (http://tinyurl.com/2u8w63z).
O Livro Bizarro nos produz um estimulante alongamento dos músculos mentais, porque em geral ficamos presos àquela vidinha besta entre os clássicos do passado e os sucessos do presente. O Livro Bizarro é o sexto lado do Pentágono e a terceira margem do rio. Não é feito por galhofa. São livros sérios, escritos por gente de verdade para quem aquele assunto merece respeito e atenção. O mundo é mais rico do que imaginamos, ainda que essa riqueza se expanda em direções que às vezes dá medo explorar.

3 comentários:

  1. Carlos.
    Mais que interessante esses títulos são hilários,curiosos, mas como você mesmo disse "esctritos por pessoas normais para quem o assunto merece o devido respeito.
    Fiquei até curiosa com alguns deles.

    Abraços,

    Leyanne Freitas
    http://acucareafetoley.blogspot.com/

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  2. Morri de rir com o post, agora sim tenho várias opções de presente pra vc!!!

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  3. Carlos,

    Alguns livros de tua lista só são "bizarros" se você toma por literal seu título. Você não pode querer esperar que "O Universo numa Casca de Noz" realmente fale sobre nozes. "Uma Breve História do Tempo", "Cosmic Connection: An Extraterrestrial Perspective", "Os Dragões do Éden", "O Mundo Assombrado pelos Demônios" são outros exemplos.

    É o óbvio ululante que "Como Ensinar Física ao seu Cachorro" não é um manual visando o público canino, não acha?

    Todos eles falam sobre ciência e tentam explicar conceitos difíceis para a maioria dos mortais de maneira simples e, em geral, bem humorada.

    Quer nome mais bizarro do que "Livro" (Bíblia)? Ou, quem sabe, "Lei" (Torá)? Ou, ainda, "Recitação" (Corão)?

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