sábado, 11 de junho de 2011

Do Dia dos Namorados e seus demônios

Amanhã é o triste e fatídico Dia dos Namorados! Ah como eu odeio, odeio, odeio. Estou hoje à la Smurf Ranzinza e odeio, odeio e odeio o Dia dos Namorados, especialmente aqui no Brasil! O Brasil, este país que copia tantas e tantas coisas da Europa e dos Estados Unidos, justamente no Dia dos Namorados é original e o comemora, sabe-se lá por que cargas d’água, em 12 de junho, em vez de 14 de fevereiro, como os gringos do Norte, que celebram o Valentine’s Day, ou Dia de São Valentim. Se aqui fosse assim, eu nem me incomodaria tanto: usaria do meu catolicismo e faria uma procissão pra São Valentim...mas não...aqui comemoram num dia em que não se comemora mais nada, é um dia só pra os namoradinhos! Puta sacanagem com os solteiros! E neste ano ainda é pior: o dia 12 de junho caiu num domingo, dia naturalmente morgado! Mas a vida tem dessas coisas, e a gente tem de superar.
Estou estressado e enraivecido com a iminência da data. Não bastasse uma semana com todo mundo, todos os amigos e amigas, planejando, comprando presentinhos, pensando em idéias para surpreender o namorado ou a namorada, contando histórias dos outros anos, ME pedindo dicas sobre o que colocar em cartõezinhos, que flor comprar...Não bastasse isso, minha mãe, pra piorar meu humor, pegou uma encomenda gigante para uma celebração conjunta do Dia dos Namorados hoje à noite, e EU, solteiro, fiquei responsável por fazer uma TUIA de canapés! Ah! E ela, minha genitora que tanto amo, ainda por cima, queria que eu cortasse os pães dos canapés em forma de coração! Aqui que eu ia cortar pão em forma de coração! Em forma de tudo eu cortaria, mas de coraçãozinho? Neca de pitibiriba: uma afronta à minha solteiridade! Cortei em rodinhas mesmo. E ACHE BOM QUE EU NÃO CORTEI EM FORMA DE OUTRA COISA!
Além do trabalho todo de hoje, todas as comidas estavam com um cafona ar romântico: trufinhas coroadas com coraçõezinhos vermelhos, pirulitos de chocolate em forma de coração, bem-casados embrulhados em papel crepom cheio de coraçõezinhos vermelhos, tudo com lacinhos meiguinhos e idiotinhas! Morangos, tomates, cerejas e maçãs, pétalas vermelhas, toalhas vermelhas, bolas vermelhas...TUDO vermelho por aqui, simbolizando o amor e a paixão. Hunf! Olhe, se vermelho, durante os outros 364 dias do ano, é minha cor favorita, no Dia dos Namorados deixa de ser e dá lugar ao preto e ao roxo, ao cinza e a todas as cores que me remetam ao luto, à quaresma ou ao advento.
Até Janjão, Senhor, meu irmãozinho de 9 anos, estava todo romântico, escutando “Pra você”, da vaqueira Paula Fernandes, no sofá perto de onde eu estava, com o fone de ouvido, com os olhinhos fechados, balançando pra esquerda e pra direita, no ritmo da música, decerto pensando em Laurinha, a menina de quem ele gosta e com quem vai dançar quadrilha hoje...Até Janjão! E eu olhando pra ele com os mesmos olhos semi-cerrados com que fitei o prato que puseram no elevador outro dia, na esperança de que deles saísse um potente raio laser.
É como minha estimada amiga Gianne disse: ou eu sou uma frigideira sem tampa, ou nasci uma obra surrealista de Salvador Dalí! Bom, pelo menos o título de “baleia encalhada” não vai mais caber em mim, já que estou emagrecendo...Mas que ser uma piaba encalhada não seja o meu destino, por Deus! Eu sou um menino bom, estudioso, educado, bem criado, estou emagrecendo, sou de uma família boa, sou de Deus, acho que sou gente boa, as pessoas riem comigo...E, ainda por cima, qual uma amiga minha, estou me alugando gratuitamente para o Dia de amanhã!
Ah amanhã! Devo passar o dia de cama, devo sair do meu regime ( e não me digam pra não sair!) e comer tudo o que eu vir pela frente, não devo entrar no facebook para não ver mensagenzinhas bregas de amor ou atualizações e também não devo ir a restaurantes ou calçadinhas, para não ver os casaizinhos bobinhos e apaixonados. E devo passar o dia só, mas, como li algures, acaso passamos o dia da árvore abraçados com uma árvore? O dia de finados abraçados com um morto? Ou o dia do índio abraçados com um índio? Então pronto! Adeus!

3 comentários:

  1. Dudu, seus textos são deliciosos. A cada um, você se supera. Não tem como um menino com tantas qualidades e atributos, como você mesmo os elencou no post, não ter "uma tampa" para chamar de sua... Vai aparecer, com certeza, pode acreditar !
    Agora, um protesto: os canapés em forma de coração ficariam tão lindos... :)))

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  2. Duduzinho meu amor, que texto delicioso... Morri de rir ao imaginar você fazendo todos os trejeitos citados e resmungando o tempo todo. Tenho certeza que a sua tampa existe e que logo chegará a hora de você ser tampado(rsrsrs!!!). Já imaginou que uma frigideira tão especial, não pode ser coberto por qualquer tampa? Tem que ser uma de extrema qualidade, beleza, brilho, para assim se encaixar em total plenitude e harmonia.
    Quanto as guloseimas preparadas,em forma de coração ou não, babei só de pensar.
    Um beijo bem grande ...

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  3. Dudu, acredite: no dia em que a sua tampa aparecer, linda, brilhante, de extrema qualidade, aquelas tampas que se encaixam na frigideira que dão até trabalho pra tirar, sabe?! Então, quando a sua tampa aparecer, você vai compreender e até agradecer as tampas tortas, e as queimadas, e até os hiatos (diga-se, Dia dos Namorados sem tampa) e as pitadas de solidão que sentiu antes de ela aparecer. Porque tudo vai se revestir de um sentido tão claro que você nem vai acreditar. Ademais, pra toda frigideira gourmet, como você, existe uma tampa certinha que só uma excelente chef é capaz de rastrear. Em outras palavras: difícil é você ficar só, com tanto humor, cultura e gentileza.

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