terça-feira, 28 de junho de 2011

Minha homenagem derradeira

Eu transcrevo, literalmente, sem ajustes - porque foi um texto discursado -, a homenagem última que prestei ao meu bisavô em sua Missa de Sétimo Dia.

"Boa noite a todos!

É com muita honra e com muito saudosismo que venho prestar esta derradeira homenagem ao meu querido bisavô Severino Xavier Pimentel. Tenho a felicidade de ter-lhe feito uma homenagem em vida, com palavras semelhantes às que vou proferir, olhando nos olhos serenos do meu bivô e lhe dando um abraço apertado de um bisneto admirador, logo esta homenagem póstuma é mais como um registro do meu amor, carinho e respeito à memória deste Severino.

Vovô “Sivirino”, como eu o chamava, assim mesmo, trocando os "Es" pelos "Is", “SI”-“VI”-rino, era, como todo bom sertanejo que se preze, e agora eu furto as palavras de Euclides da Cunha, antes de tudo, um forte. Meu bisavô era aquele a quem se podia chamar de HOMEM DE BEM, uma espécie bem rara nos dias de hoje, um exemplo de integridade, carinho, temência e luta que deve, em que pese a morte do homem, viver eternamente nos corações das gerações vindouras!

Eu estufo o peito, bato com o punho fechado numa mesa como ele fazia, e proclamo, com um bom orgulho, que sou bisneto de Severino Xavier Pimentel, um cristão perseverante, batalhador, trabalhador, que galgou os degraus da vida e, labutando junto à minha amada bisavó Lizete, formou uma família bela, ao mesmo tempo em que construiu uma das maiores indústrias têxteis do país, que foi a MOAR, grande orgulho da vida dele.

Vovô Sivirino era um visionário que não só vislumbrava maravilhas, mas as punha todas em prática...Eu me lembro como se fosse ontem: eu tinha perdido uma aula de Zarinha e fui esperar meu pai lá na lavanderia junto com vovô, aí foi conversa que não se acabava...Ele, sempre com ar entusiasmado, me contava como foi a construção da casa na Av. Amazonas, desenhando, com um lápis que ele gostava muito, parecido com este, como ele queria as famosas portas elétricas que subiam para o teto, dizendo como ele era teimoso com os engenheiros e insistente no que ele queria...E assim ele era em tudo quanto fazia: obstinado, cheio de fé. E é esse exemplo que fica: o da perseverança na construção de nossa vida e de nossos sonhos, o exemplo da determinação e da certeza de que nada é impossível quando há vontade, trabalho árduo e fé em Deus.

Se me pedissem para definir vovô Sivirino em uma só palavra, se me pedissem para dizer aquela única palavra que me remonta ao meu estimado bivô, esta palavra seria LUTA, e só ela bastaria para representar a grandiosidade e a nobreza do caráter do meu bisavô. Vovô, e agora eu me recordo do poema do pernambucano João Cabral de Melo Neto, teve o que se pode chamar de “Morte e Vida Severina”, título da obra deste grande autor: vovô nasceu num contexto difícil, de luta, cresceu lutando, lutou para crescer e morreu lutando. Poucos, minha gente, são os homens como o meu bisavô! É uma honra e uma felicidade sem igual para cada um de nós poder dizer: “Eu sou filho de Severino Pimentel”, “Eu sou neto de Severino Pimentel”, “Eu sou bisneto de Severino Pimentel”, “Eu sou sobrinho, primo, irmão, ESPOSA de Severino Xavier Pimentel”! Mas que não fiquemos no dizer! Tentemos sempre nos assemelhar a ele em tudo quanto ele era!

Para finalizar esta pequena homenagem ao meu GRANDE bisavô, eu vou fazer uso das palavras de um personagem de desenho animado chamado Zé Colméia, num filme a que eu assisti com meu irmãozinho João Vítor e que me chamou muito a atenção, porque eu me lembrei muito de vovô Sivirino. Ela diz mais ou menos assim: “Catatau, a gente só fracassa quando a gente para de tentar!” E meu bisavô é um homem que nunca parou de tentar e que por isso, é um vitorioso. E eu uso o verbo no presente, “É”, porque eu tenho em meu coração a certeza indubitável de que ele deixou a vida, mas venceu a morte e tem morada hoje na casa do Pai, ao lado de sua amada Virgem Maria, olhando e intercedendo por todos nós!

'...E não há melhor resposta

que o espetáculo da vida:

vê-la desfiar seu fio,

que também se chama vida,

ver a fábrica que ela mesma,

teimosamente, se fabrica,

vê-la brotar como há pouco

em nova vida explodida;

mesmo quando é assim pequena

a explosão, como a ocorrida;

mesmo quando é uma explosão

como a de há pouco, franzina;

mesmo quando é a explosão

de uma vida severina.' (Morte e Vida Severina)



Obrigado!"

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