quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Viva João Cabral de Melo Neto

O fogo no canavial - João Cabral de Melo Neto



A imagem mais viva do inferno.
Eis o fogo em todos seus vícios:
eis a ópera, o ódio, o energúmeno,
a voz rouca de fera em cio.
E contagioso, como outrora
foi, e hoje, não é mais, o inferno:
ele se catapulta, exporta,
em brulotes de curso aéreo,
em petardos que se disparam
sem pontaria, intransitivos;

mas que queimada a palha dormem,
bêbados, curtindo seu litro.
(O inferno foi fogo de vista,
ou de palha, queimou as saias:
deixou nua a perna da cana,
despiu-a, mas sem deflorá-la.)





João Cabral de Melo Neto (Recife, 9 de janeiro de 1920 - Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999) - Além de poeta, foi um diplomata brasileiro. Classificado como poeta da geração 45, terceira geração do modernismo, foi agraciado com diversos prêmios ao longo de sua carreira de escritor. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Pernambucana de Letras.

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