terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Haiti x Labadee - à discussão

De um lado do Haiti, o desespero, e do outro, luxuosos cruzeiros
Publicada em 18/01/2010 às 14h46mO Globo

RIO - A menos de 100 quilômetros da área devastada pelo terremoto no Haiti, cruzeiros luxuosos atracam em praias particulares onde passageiros aproveitam variados coquetéis, e passeios de Jetski, parasail, entre outras atividades. Mesmo com a tragédia, que pode ter deixado 200 mil mortos, a rotina dos transatlânticos não foi alterada. O gigante Independence of the Seas, da Royal Caribbean International, desembarcou na sexta-feira no resort Labadee, refúgio que conta com forte esquema de segurança, ao norte da costa haitiana. Já o Navigator of the Seas, que conta com 3.100 passageiros, está marcado para chegar à região nos próximos dias, informou o jornal "Guardian".
A empresa americana aluga a paradisíaca ilha do governo haitiano para passageiros que querem relaxar com esportes aquáticos, churrascos, e fazer compras de souvenires em pequenas lojas no local durante o dia. A segurança é garantida por homens armados na entrada.
A decisão de manter a programação causou polêmica. Os navios levam ajuda com alimentos e a empresa afirmou que vai doar todos os lucros da viagem aos haitianos. Mas muitos passageiros permaneceram a bordo quando o navio atracou.
"Não consigo me ver pegando sol em uma praia, nadando, comendo churrasco, e aproveitando um coquetel, enquanto em Porto Príncipe há dezenas de milhares de corpos sendo empilhados nas ruas, com sobreviventes desesperados procurando por comida e água", disse um passageiro em um fórum de discussão na internet.
"Já foi difícil o suficiente sentar e comer um lanche em Labadee antes do terremoto, sabendo quantos haitianos passavam fome", afirmou outro internauta. "Não me imagino comendo um hambúrguer lá neste momento".
Alguns passageiros de navios programados para atracar na ilha temem que pessoas desesperadas invadam o resort para conseguir comida e água, mas outros parecem estar determinados em aproveitar as férias. "Estarei lá na terça-feira e planejo aproveitar a minha excursão e o meu passeio", disse uma pessoa.
"No fim, Labadee é fundamental para a recuperação do Haiti. Centenas de pessoas dependem de Labadee para sobreviver", disse John-Weis, vice-presidente da companhia. "Em nossa convera com o enviado especial da ONU ao Haiti, Leslie Voltaire, foi dito que o país iria se beneficiar com os lucros gerados em cada passeio. Também temos oportunidades tremendas de usar os navios para transportar suprimentos. Simplificando, não podemos abandonar o Haiti no momento em que mais precisam de nós".

Confesso que ainda não havia pensado sobre essa situação paradoxal lá no Haiti. Porém, acredito que a suspensão da parada e consequentemente do aluguel de Labadee sejam mais prejudiciais ao povo haitiano nesse momento, ante a interrupção da fonte de renda que (espero) seja revertida em favor dos desabrigados.
Aberto à discussão (acho que já sei qual será a opinião de Biba !!)

2 comentários:

  1. Pode até soar um tanto frio, mas a despeito da dor de qualquer um de nós ou de até milhares de nos, o mundo continua a girar, as horas passam, os dias se sucedem, e a vida invariavelmente continua.Eu sei que toda a desigualdade social, toda a pobreza e toda a desgraça nos oprime também,mas a única coisa que nos resta é orar por todos os haitianos e colaborarmos de alguma forma com algum donativo, sem dúvida continuar visitando o Haiti é uma excelente maneira de ajudar a reconstrução do país.

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  2. Rê, essa situação pra mim é mesmo um tanto quanto conflitante. É como diz aquele poema de Martha Medeiros já postado aqui no Amenidades: ‘se tem alguma confusão no mundo, não se iluda, de alguma forma, você deve estar envolvido’. Em contrapartida, o tempo tem, lentamente, tirado de mim o peso por ver tanta miséria, atrocidade. Se eu me acostumei? Não, nunca. Tento ajudar no que está ao meu alcance. Fazer um trabalho voluntário (que saudade), doar livros, empregar alguém, ter atitudes sustentáveis podem ser um início de mudança. Todo dia eu tento escolher fazer o diferente. Claro que nem sempre eu consigo. Mas tento. Ademais, a Embaixada do Haiti abriu uma conta para doações – administrada por ela mesmo. Eu não sou adepta de doações em dinheiro, mas no caso do Haiti, meu preconceito não pode falar mais alto que a vontade de ajudar. Já pensou se cada um doasse um real? Eu fiz a minha doação. Simbólica, mas que amena um pouco a inquietude pela tragédia.
    Seguem os dados, caso alguém se interesse.
    Nome: Embaixada da República do Haiti
    Banco do Brasil
    Agência 1606-3
    Conta Corrente: 91000-7
    CNPJ: 04170237/0001-71
    Beijos.

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