quarta-feira, 3 de junho de 2009

MITAKUYE OYASIN




Ok.

Por onde comecar? Ah, ja sei, falando que estou ha dois dias tentando mudar a configuracao do teclado do meu laptop .. ou seja: palavras sem acentuacao correta e tambem um monte de reticencias no corpo do texto (tenho mania!!..!rsrsrs).

Bom, tenho tanta coisa para falar, "sao tantas emocoes!!", mas, vou me acalmar e re-organizar, afinal de contas (to procurando esta expressao em Ingles!), posso escrever tantas vezes quanto quiser!

Decidi colocar o titulo "Mitakuye Oyasin", porque esta eh (horrivel este "eh", mas eh o jeito!) uma expressao que significa muito para mim. Em 2006 quando me formei educadora experiencial em ambientes naturais, vivi uma experiencia bastante intensa nas montanhas de Itatiaia, RJ. Naquela noite de lua cheia, chuvisco e aproximadamente 3 graus Celsius, estava com minha caminha pronta para dormir (caminha= isolante + saco de dormir + "shelter", tipo uma lona grande para proteger), isto mesmo: sem barraca! Isto se chama :" bivouac". Esta era a proposta dos Instrutores da Outward Bound para termos uma experiencia unica de reflexao.

Cada um escolheu um lugar para passar aquela noite congelante, sozinhos. Eu fui caminhando e encontrei um lugarzinho plano entre aquela vegetacao de altitude caracteristica de Itatiaia. Testei meu isolante, deitei e achei o lugar confortavel. Alem disso, fiz questao de ter uma vista maravilhosa. De onde estava podia ver cadeias e cadeias de montanhas uma por tras das outras, desnudando seus lindos picos e extensos vales. Os intrutores tambem sugeriram que cada um escolhesse um nome, pelo qual gostaria de ser chamado durante a expedicao.

Definitivamente nao foi uma noite confortavel!.. Eu, sem meus "hard skills" de montanha, achava que tinha escolhido um lugar bacana.. mas, tava bem longe disso, nao tinha uma protecao natural para vento, estava muito exposto, nao fiz uma leitura do terreno, imaginando como seria o fluxo da agua da chuva ali, enfim, nao tinha julgamento apurado para "viver" outdoor.

Mas, o mais interessante eh que, apesar de estar com minha zona de conforto totalmente perturbada, eu me permiti viver uma experiencia unica e muito especial. Vento, frio, chuva, animais, sons estranhos, plantas,..terra.. eu.. ceu. Pude perceber todas as interconexoes que estava experienciando. Porque nao dormi, pude ver a Lua seguindo sua linha ascendente-descendente. Foi realmente intenso. Entao, me lembrei de uma expressao indigena (tinha lido no meu curso on-line de Tupi-Guarani), "Mitakuye Oyasin", que significava : Por Todas as Nossas Relacoes. E foi este nome que escolhi para ser chamada, um pouco grande, admito, mas era tao perfeito para aquela situacao, que nem veio outro na minha mente.

No dia seguinte todos se reuniram em um circulo para um delicioso cafe da manha e compartilhamos as nossas experiencias e nomes.. Claro, que colocaram de imediato um apelido para Mitakuye Oyasin : MITA. :) E desde 2006, todos os meus novos amigos de Sao Paulo e Rio me chamam de Mita e eu respondo como Mita.. e hoje em dia, eh nao somente um nome, mas essencialmente um simbolismo incorporado de espiritualidade, energia e renovacao. Desde entao, tenho dois nomes. Na Outward Bound (http://www.obb.org.br/), na NOLS (http://www.nols.edu/) e aqui em US, TODOS, me conhecem como Mita.. :)

Quando estava na PB e tambem quando estava mais tempo no RJ, criei as reunioes "Mitakuye Oyasin".. onde a proposta era: reunir um grupo de pessoas interessadas em discutir, debater, trocar informacoes, vivencias, sobre qualquer assunto/tema que achasse pertinente, positivo e interessante. O foco das reunioes era, acima de tudo, a diversidade e ao mesmo tempo, a singularidade de cada um. Quem se colocasse na posicao de "comandar" uma reuniao, estaria ali compartilhando seus pontos de vista, sua percepcao, seu jeito de ser, suas intencoes de vida.. seu eu. Foram reunioes interessantissimas, divertidas e algumas tiveram grande fator terapeutico para quem estava presente.. porque eram imbuidos de aceitacao incondicional, empatia e muita consideracao. Era muito bom mesmo! :)

Tenho uma grande atracao e interesse pela cultura indigena, especialmente pela maneira a qual os povos nativos se relacionavam(infelizmente poucos conseguiram manter os antigos padroes de relacoes)com o ambiente, uns com os outros, com o corpo, a mente e a alma. Nao procuro muito, mas sempre aparece, no momento certo, alguns "mentores"(que pode ser qualquer coisa: um livro, um filme, uma pessoa, um insight) no meu caminho. Um deles foi a descoberta em 2007 de um metodo de terapia corporal desenvolvida por um americano chamado Jeff Romanowski: o Metodo Romanowski. Estava no Rio e recebi um e-mail de uma amiga divulgando um workshop. Quando li, me senti absolutamente atraida: "uma forma intensa de trabalho corporal, foi concebido para criar uma mudanca profunda em nossa perspectiva pessoal, eliminando filtros que normalmente nos mantem aprisionados a comportamentos e realidades".

A terapia (nao eh massagem!!!) eh uma combinacao de pressao em pontos musculares especificos e respiracao. Este trabalho proporciona o acesso a memorias que estam "afixadas" no corpo em forma de tensao, devido a traumas, conflitos, medos experienciados. Jeff eh terapeuta neuromuscular e curador ("healer")em NY e vem duas vezes por ano ao Brasil (basicamente SP), depois que fiz meu curso, ele me chamou para dar assistencia nas sessoes e desde entao, cada vez que ele vem, trabalhamos juntos.. O interessante eh que, sem saber, descobri que o metodo tem uma influencia dos ensinamentos dos indios norte-americanos, algumas tecnicas que aplicamos fazem parte do repertorio das tecnicas de cura usadas pelos povo indigena.

Semana passada fui dar uma volta pela rua, aqui em Lander, Wyoming. E entrei em uma loja - Indian Territory - comecei a olhar e vi um livro interessante, dei uma folheadas e comprei: "Honoring the Medicine - The Essencial Guide to Native American Healing"( Cohen, Kenneth). O livro eh realmente muito bom, reconhecido pela American Psychology Association e traz um estudo da origem e descricao das tecnicas de tratamento e cura usadas pelos indios nativos. Alem de ter uma gama enorme de informacoes historicas e culturais dos indios norte-americanos..

O mais curioso eh que, estava lendo sobre diferenca de percepcao entre Ocidente (nosso mundo atual) e dos Native American em relacao a doenca e a saude. Tive uma agradavel surpresa quando li: " Native American healer looks at disease as a disturbance in the relationship among self, spiritual forces, community and environment; the Western physician focuses on body parts and biochemicals. Health for the Indian is a state of MITAKUYE OYASIN ( a term Lakota for "We are all related"). Health for the non-Indian physician is the absence of disease and must be confirmed by laboratory tests..."

Enfim.. achei muito bom saber que o nome que escolhi para ser chamada, nao eh somente uma expressao entendida pelos Tupi-Guaranis, mas tambem pelos indios Lakota,US.. mas, principalmente por saber que quando estamos todos relacionados, podemos considerar que estamos saudaveis, que temos forca, que somos parte de toda esta maravilha que eh a vida!

Muito bom compartilhar meu Eu e melhor ainda poder receber tantos Eus por aqui..

Adorei esta iniciativa , Guga... foi muito Mitakuye Oyasin!. Adoro as fotos! diminui minha ansiedade com a saudade... por isto coloquei uma daqui tambem.. descendo o rio Popoashie de canoa, aqui em Lander...

"Nao apresse o rio, ele corre sozinho" !

beijo enorme!
Nana

3 comentários:

  1. Fui com mainha assistir à missa pelo sétimo dia de morte de vovô, depois fomos jantar, passei no supermercado e não via a hora de chegar em casa e abrir o blog, uma estranha ansiedade, e que maravilhosa surpresa!! Parece que, pelo menos, a nossa relação fraternal está muito viva, estamos conectadas, não foi à toa que eu coloquei hoje o post sobre o livro que vc me indicou e que eu adorei.Este seu post se encaixa perfeitamente no que eu pensei e senti quando decidi criar o blog, queria que as pessoas de que eu gosto de alguma forma se inter-relacionassem, queria que todos pudessem dividir um pouco da sua vida, do seu eu, revelar mais que opiniões, gostos, dia-a-dia, mas o seu segredo pessoal, a sua essência, aquilo que faz com que cada um de nós seja especialmente único e igualmente humano. Mitakuye Oyasin!Isto é quase um mantra kkk!! Um grande beijo, uma enorme saudade!

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  2. Nana, essa semana pensava em você. Em como você faz as coisas terem a sua cara. Em como você vive as suas experiências de forma tão intensa. Quando estava em João Pessoa, se entregava de corpo e alma aos seus pequeninos pacientes. Até pintei tapetes e quadrinhos pro seu consultório, com imensa satisfação em fazer parte do seu universo. Agora, ele (o seu universo), de novo, e numa dimensão tão maior, tão parecido com você. Você faz as distâncias se encurtarem. Você se encontrou, mais uma vez, nessas andanças profundas à procura de novos horizontes, de um lugar calmo e confortante pra dormir e pra se achar também. Saudades do nosso grupo semanal... na época, ele fazia tanto sentido... como se precisássemos uns compartilhar as experiências com os outros. Exatamente como neste Blog.

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  3. Querida nana,

    sei que tenho andado um tanto ausente, não tenho respondido aos seus emails, mas tenho lido todos. Saiba que você está sempre em meu pensamento.
    Sabe, comparo a nossa relação tal como o envelhecimento de um vinho, que vai apurando seu aroma e sabor com o passar dos anos. Paradoxalmente, sinto-me mais próxima de você hoje,do que quando morávamos juntas.
    E como é bom te sentir ao meu lado, sentir nossa relação se estreitar; como é bom aprender com você; como é bom ver seu crescimento. Que pessoa linda você se tornou. Sinto muito sua falta e anseio por te ver em breve.
    Muitos beijos, da tua irmã que te ama, Lola.

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